quinta-feira, 24 de dezembro de 2020

Retrospectiva 2020

 

2020: Um Ano Difícil

Rio de Janeiro, 24.12.2020

 

A pandemia mundial da Covid-19 ainda nem acabou mas já marcou 2020 como um ano de perdas: perdemos nossa liberdade, o direito de ir e vir, de nos reunir, de visitar entes queridos, de conviver com quem amamos, de viajar, confraternizar e aprender cotidianamente em nossos locais de trabalho. Muitos perdemos amigos, parentes, companheiros de jornadas. Outros perderam suas fontes de sustento, com o baque econômico que o vírus trouxe a reboque. Diante da avalanche de notícias negativas, quantos não sentiram medo, ansiedade, incerteza, dificuldades para se adaptar aos novos tempos? Fato é que ninguém passou incólume pela pandemia. 

Em 2020, na área ambiental, perdemos 11.088 km2 de florestas só na Amazônia. Uma área igual a 1.5 milhões de campos de futebol. O equivalente a 626 milhões de árvores tombaram, parte significativa destas no interior de Terras Indígenas ou Unidades de Conservação. A Amazônia caminha a passos largos para o seu tipping point ("ponto de inflexão”): se mantidas as atuais taxas de desmatamento, em 30 anos a Amazônia ingressará em um processo irreversível de savanização, com drásticas consequências para o clima global. 

Do Pantanal, a maior planície inundável do planeta, perdemos quase 30% do bioma para as chamas. As imagens de tamanduás, onças pintadas, capivaras, jacarés e uma infinidade de outros animais resgatados em frangalhos, queimados, sedentos, ganharam o mundo. Todos os outros biomas brasileiros como a Mata Atlântica, os Pampas, o Cerrado e a Caatinga, acumulam perdas e encolheram no biênio 2019-2020. A notícia é ruim para onde quer que se olhe, e a cada ano nos afastamos mais do cumprimento das metas de redução das emissões de gases estufa estabelecidas como compromisso pelo Brasil junto ao Acordo de Paris. 

O que falar então dos nossos colegas, Wellington Fernando Peres Silva, analista ambiental do ICMBio, e do piloto do helicóptero do Ibama Mauro Tadeu, que perderam prematuramente suas vidas enquanto trabalhavam no combate aos incêndios florestais? Respeito máximo aos nossos irmãos e irmãs que colocam suas vidas diariamente em risco para proteger aquilo que pertence à toda a humanidade. 

Mas nem só as perdas marcaram 2020. Comemoramos pequenas vitórias, fruto de muita luta coletiva e da mobilização de trabalhadores, sociedade civil, ambientalistas. Juntos, conseguimos derrubar a Medida Provisória da Grilagem (MP 910), barrar a construção de um autódromo sobre 200 mil árvores da Floresta do Camboatá no RJ, postergar a votação do Projeto de Lei Geral do Licenciamento Ambiental e a Reforma Administrativa, que precariza ainda mais o serviço público brasileiro. Pequenas vitórias  temporárias, de batalhas que seguirão implacáveis durante os próximos anos. 

Outro sopro de esperança veio das urnas. A derrota do trumpismo na maior potência global e o significativo enfraquecimento do bolsonarismo nas eleições municipais brasileiras mostram que é possível virar essa página em 2022. A população não referendará a continuidade do projeto genocida de Bolsonaro, Mourão, Ricardo Salles e companhia. É preciso reformular integralmente o modelo, começando pela mudança das forças políticas que hoje estão à frente do desmonte das políticas públicas nacionais, reservando aos atuais representantes nada menos que a lata de lixo da história. 

No horizonte de 2021, muitos desafios à nossa categoria: o fantasma da fusão do ICMBio com o Ibama, feita com base em discussões de gabinete escondidas a sete chaves, por pessoas extraquadros, em sua maioria militares, sem conhecimento do assunto; as restrições orçamentárias impostas à área ambiental federal, tornando quase impossível a realização de atividades básicas; o rolo compressor das reformas precarizantes, debatidas em cenário de crise econômica global, que aprofundam a retirada de diretos dos trabalhadores, num governo que enxerga servidores públicos como parasitas; a manutenção do comando das Forças Armadas sobre o combate ao desmatamento, a elevados custos e resultados pífios, com a destruição do aparato de fiscalização do Ibama e ICMBio; a corrida contra o tempo para restaurarmos a governança ambiental antes que a crise climática e a extinção em massa cobrem o seu preço para as atuais e futuras gerações; além da própria persistência da pandemia do coronavírus e o enfrentamento a um governo genocida que nega o direito básico à saúde a todos.

Por tudo isso, 2021 deve ser um ano de resistência. Por que não podemos perder a esperança de que é possível construir um país melhor, apesar de Bolsonaro. É na luta que nos encontramos! 

Um bom final de ano para todos. Saudações!

 

Associação dos Servidores Federais da Área Ambiental no Estado do Rio de Janeiro - Asibama/RJ